terça-feira, 7 de abril de 2009

Le Futurisme (O Futurismo)

[aos alunos do 3º ano Noturno]

[...]

Então, com o rosto mascarado pela boa lama das usinas, cheio de escórias de metal, de suores inúteis e de fuligem celeste, levando nossos braços pisados na tipóia, entre o lamento dos sábios pescadores à linha e dos naturalistas angustiados, nós ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:
MANIFESTO FUTURISTA
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à temeridade.

2. Os elementos essenciais de nossa poesia serão a coragem, a audácia e a revolta.

3. Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto mortal, a bofetada e o soco.

4. Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com a beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre adornado de grossos tubos como serpentes de fôlego explosivo... um automóvel rugidor, que aprece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Somotrácia.

5. Nós queremos cantar o homem que está na direção, cuja haste ideal atravessa a Terra, arremessada sobre o circuito de sua órbita.

6. É preciso que o poeta se desgaste com calor, brilho e prodigalidade, para aumentar o fervor entusiástico dos elementos primordiais.

7. Não há mais beleza senão na luta. Nada de obra-prima sem um caráter agressivo. A poesia deve ser um assalto violento contra as forças desconhecidas, para intimá-las a deitar-se diante do homem.

8. Nós estamos sobre o promontório extremo dos séculos!... Para que olhar para trás, no momento que é preciso arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós vivemos já no absoluto, já que nós criamos a eterna velocidade onipresente.

9. Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher.

10. Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunas e utilitárias.

[...]

É para a Itália que nós lançamos este manifesto de violência agitada e incendiária, pela qual fundamos hoje o Futurismo, porque queremos livrar a Itália de sua gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários.

A Itália foi por muito tempo o grande mercado das quinquilharias. Nós queremos desembaraçá-la dos museus inumeráveis que a cobrem de inumeráveis cemitérios.

Museus, cemitérios!... Idênticos verdadeiramente no seu sinistro acotovelamento de corpos que não se conhecem. Dormitórios públicos onde a gente dorme para sempre lado a lado com os seres odiados ou desconhecidos.

Admirar um velho quadro é verter nossa sensibilidade numa urna funerária, em vez de lançá-la adiante pelos jatos violentos de criação e ação.Você quer portanto estragar suas melhores forças numa admiração inútil do passado, do qual você sai forçosamente esgotado, diminuído, espezinhado?

Venham portanto os bons incendiários de dedos carbonizados!... Ei-los aqui! Ei-los aqui!... E metam logo o fogo nas prateleiras da bibliotecas! Desviem o curso dos canais para inundar as sepulturas dos museus!... Oh! que elas, as telas gloriosas, nadem à deriva! Para vocês as picaretas e os martelos! Escavem os fundamentos das cidades veneráveis!

[...]

Olhem-nos! Nós não estamos esfalfados... Nosso coração não tem a menor fadiga! Porque ele está nutrido pelo fogo, pelo ódio e pela velocidade!... Isso o espanta? É que você não se lembra mesmo de ter vivido.

(Filippo Tomaso Marinetti. Le Figaro. Paris. 20 de fevereiro de 1909)

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